Capacitação trouxe temas práticos, como serviços de acolhimento, cuidados essenciais, bons hábitos familiares, comunicação não violenta, técnicas de mediação e conciliação, sexualidade, desafios na adolescência, entre outros
Com o auditório repleto de pessoas, de esperança e alegria, a Defensoria Pública de Minas Gerais (DPMG) realizou nesta terça-feira (12/12) a cerimônia de formatura da primeira turma da Escola de Convivência Familiar.
Voltada prioritariamente para familiares e cuidadores de crianças e adolescentes que estejam em serviço de acolhimento institucional, a capacitação oferecida pela Defensoria trabalhou conteúdos de forma teórica e prática, informações e instrumentos para auxiliar as famílias a serem mais protetivas com suas crianças e adolescentes, condição necessária para que filhas e filhos retornem ao convívio familiar. Ao longo do último trimestre foram realizados 12 encontros na DPMG.
Nesta primeira edição do curso foram formadas 73 pessoas no total. No decorrer da capacitação, 11 crianças retornaram para as famílias de origem, 8 para os pais e 3 para a família extensa. Seis crianças já têm decisão dos abrigos para retorno para seus pais nos próximos dias.
Abertura
Ao abrir o evento, a defensora pública-geral de Minas Gerais, Raquel Gomes de Sousa da Costa Dias, salientou a contribuição do curso para o fortalecimento da família e para o aperfeiçoamento da proteção e dos cuidados com as crianças e adolescentes.
“Todos nós, que somos pais e mães, erramos muito. Às vezes não sabemos como lidar com uma situação difícil e podemos nos perder, mesmo tentando fazer o melhor. Esta capacitação mostra para vocês que são capazes de serem boas mães e bons pais. São capazes de corrigir o que precisa ser corrigido e fazer com que suas crianças tenham, no seio da família, todas as oportunidades para serem bons seres humanos, para trilharem sua própria vida, de forma independente, no caminho do bem. Todos nós precisamos passar por essas experiências de aprendizado para sermos melhores”, disse a DPG.
Ao finalizar sua mensagem, Raquel da Costa Dias reforçou o apoio da Defensoria Pública nesse processo. “Saibam que estamos aqui como instituição para garantir que a autoridade parental que vocês têm sobre seus filhos seja exercida da maneira mais plena possível”, afirmou.
O ciclo finalizado e as transformações decorrentes foram observadas pela idealizadora da capacitação, a coordenadora estratégica de Promoção e Defesa dos Direitos das Crianças e Adolescentes, defensora pública Daniele Bellettato Nesrala.
“Neste momento de celebração estamos encerrando um ciclo com muitas notícias boas, muitas crianças que voltaram para casa, outras que estão voltando, muitas famílias reconstruídas. É realmente um momento de emoção. A gente passou aqui diversas manhãs e tardes de terças-feiras nos últimos meses, vendo as famílias entrarem com as suas crianças, e cada vez que uma criança voltava para cá, todo mundo comemorava junto”, disse.
Daniele Bellettato destacou que para além da assistência jurídica promovida pela DPMG, “na Escola de Convivência são tratados os problemas que surgem lá no processo, mas que na verdade não têm nada de jurídico. São problemas de relações sociais, ligados a vulnerabilidades de todas as ordens”.
Representando o corregedor-geral da DPMG, Galeno Gomes Siqueira, a defensora pública-auxiliar da Corregedoria-Geral, Marina Buck Carvalho Sampaio, parabenizou as formandas e formandos, desejando que “a reconexão alcançada com seus filhos e filhas permaneça daqui para sempre”.
Ao saudar as pessoas presentes, a coordenadora da Escola Superior, defensora pública Silvana Lobo, reafirmou o lugar da Defensoria Pública como instituição cidadã, sempre de portas abertas para a população mineira.
O desafio da execução do projeto foi lembrado pela coordenadora de Projetos, Convênios e Parcerias, defensora pública Michelle Lopes Mascarenhas Glaeser. Ela parabenizou as pessoas pela participação, por terem chegado até sua conclusão e convidou-as a conhecer e a participar de outros projetos extrajudiciais desenvolvidos pela Defensoria Pública mineira.
Por mensagem lida por sua assessora Amanda Paes, o juiz da Vara Cível da Infância e Juventude de Belo Horizonte, José Honório de Rezende, destacou a aprendizagem da jornada e parabenizou seus participantes.
“Tenho a convicção de que cada um que se envolveu nesse curso, seja como aluno, seja como professor, viveu um percurso transformativo que permite inaugurar uma nova fonte de esperança na vida. De que podem ser capazes de proteção, de que podem ser capazes de exercer uma convivência também formativa em relação aos filhos. De que podem superar a angústia e a dor de ter um filho acolhido e criar um novo ciclo de vida, agora empoderados pela força de saberes”, afirmou.
O subsecretário de Assistência Social da Prefeitura de Belo Horizonte, José Cruz, destacou a importância do curso ofertado e da rede de proteção social, “para antecipar qualquer situação de ruptura de vínculo de crianças e adolescentes de seus núcleos familiares, e também para o retorno protegido dessas crianças ao convívio familiar e comunitário”.
Depoimentos
Mãe de sete filhos, Rafaela é uma das participantes que têm muito a comemorar. Seu filho R., que ficou em acolhimento por sete anos, voltou a morar com a família há dois meses. Rafaela fez o curso por sugestão da coordenadora da Casa Esperança. “Ele tinha sete anos quando foi acolhido. Hoje ele tem 14 anos. Então, vim para aprender a lidar com ele. No final de outubro, o juiz me entregou ele de volta. Agora ele está na escola e trabalhando. O curso ajudou muito, a gente aprendeu a lidar com adolescentes, porque não é fácil. Quando ele saiu era uma criança, quando retornou, já era um adolescente. Agora está tudo dando certo, graças a Deus”, contou.
Com dois de seus três filhos sob a guarda de sua mãe, Nilmara buscou a Escola de Convivência para tentar alterar a guarda para compartilhada. Para ela, “além do cuidado com os filhos, o curso trouxe o cuidado consigo mesmo e ensinou como lidar com as crianças em todas as fases da vida, não apenas na infância, mas na adolescência também. Aprendi muito aqui. Até o diálogo com a minha mãe está mais fácil”, disse.
Participação
Durante toda a capacitação, as pessoas participantes receberam vales-transporte (ida e volta) para deslocamento até o curso, realizado no auditório da Unidade I da DPMG em Belo Horizonte.
As pessoas que compareceram a pelo menos 70% das aulas receberam certificado.
Espaço de brincadeiras e acolhimento
Um espaço especial foi preparado para receber as crianças presentes nos encontros da capacitação. Representantes do Museu dos Brinquedos trouxeram ações educativas para as pequenas e pequenos, por meio de brincadeiras. A iniciativa foi formalizada por meio de um acordo de cooperação técnica entre a DPMG e o Instituto Cultural Luiza de Azevedo Meyer.
Parceria
A Escola de Convivência Familiar é uma parceria entre a Coordenadoria Estratégica de Promoção e Defesa dos Direitos das Crianças e Adolescentes (Cededica/DPMG) e a Coordenadoria de Projetos, Convênios e Parcerias (CooProC).
Alessandra Amaral – Jornalista DPMG.